Reflexão sobre a Solenidade de Pentecostes
Queridos irmãos e irmãs, cinquenta dias se passaram da Sagrada Páscoa do Senhor, e então fazemos memória da grande Solenidade de Pentecostes, a vinda do Espírito Santo, a confirmação da promessa feita por Jesus de que não estaríamos órfãos, mas receberíamos o Paráclito. “Quando vier o Paráclito, que vos enviarei da parte do Pai, o Espírito da Verdade, que procede do Pai, ele dará testemunho de mim.” (Jo 15,26).
Vamos entender primeiro o que é Pentecostes: do grego pentekostós, quinquagésimo. É a Solenidade Litúrgica em que se recorda a vinda do Espírito Santo sobre Maria e os apóstolos (At 2,1s). Neste dia, o Tempo Pascal chega à sua plenitude e termina. Contudo, o povo judeu já chamava de Pentecostes, ou festa das Semanas, a festa da colheita agrícola que também recordava a aliança do Sinai.
O Catecismo da Igreja Católica nos ensina: “No dia de Pentecostes (no fim das sete semanas pascais), a Páscoa de Cristo se realiza na efusão do Espírito santo, que é manifestado, dado e comunicado como Pessoa Divina: de sua plenitude, Cristo, Senhor, derrama em profusão o Espírito”. (CIC§ 731). E ainda nos traz: “Neste dia é revelada plenamente a Santíssima Trindade. A partir desse dia, O Reino anunciado por Cristo está aberto aos que creem nele; na humildade da carne e na fé, eles participam já da comunhão da Santíssima Trindade. Por sua vinda — e ela não cessa –, o Espírito Santo faz o mundo entrar nos ‘últimos tempos’, o tempo da Igreja, o Reino já recebido em herança, mas ainda não consumado.” (CIC§ 732).
Também dizemos que, em Pentecostes, temos a inauguração da Igreja, onde Ela aparece publicamente para pregar o Evangelho através dos primeiros anunciadores que foram os Apóstolos, deixando o Cenáculo, antes amedrontados, mas agora cheios de coragem para anunciar as maravilhas do Reino de Deus.
Convido você a reler a passagem de Atos dos Apóstolos no capítulo 2 que nos apresenta o novo curso da obra de Deus, fundamentada na Ressurreição de Cristo e que nos impulsiona na realização da missão recebida para todos os que são batizados no Espírito Santo.
Existe uma relação extraordinária entre essas situações: o derramamento do Espírito Santo e a Igreja. Nós cremos e professamos que a Igreja é o Corpo de Cristo. Todo corpo tem uma alma, e a alma da Igreja é o Espírito Santo. Isso é maravilhoso: temos o Corpo onde Cristo é a cabeça, os membros desse corpo somos nós e o que nos une a Cristo é o Espírito Santo.
Ao celebrarmos Pentecostes, somos convidados então a renovar o nosso Batismo e a nossa Crisma, mas não somente isso, como ainda, a nossa fé na Igreja. O Batismo e a Crisma porque fomos batizados, nascemos para a fé, e, em seguida, confirmados, nos tornando adultos nesta mesma fé para desfrutarmos dos dons do Espírito Santo em plenitude, no combate daquilo que nos afasta de Deus. Não sozinhos, mas com a Igreja, como membros desta Igreja, como um soldado de Cristo, vivendo a nossa missão de discípulos apaixonados pelo Senhor.
Por tudo isso, precisamos entender o significado da Terceira Pessoa da Santíssima Trindade: “O termo Espírito traduz o termo hebraico Ruah, o qual em seu sentido primeiro significa sopro, ar, vento. Jesus utiliza precisamente a imagem sensível do vento para sugerir a Nicodemos a novidade transcendente d’Aquele que é pessoalmente o Sopro de Deus, o Espírito Divino. Por outro lado, Espírito e Santo são atributos divinos comuns às Três Pessoas Divinas. Mas, ao juntar os dois termos, a Escritura, a Liturgia e a linguagem teológica designam a Pessoa inefável do Espírito Santo, sem equívoco possível com os outros empregos dos termos espírito e santo” (CIC§ 691).
Ao anunciar e prometer a vinda do Espírito Santo, Jesus O denomina Paráclito, Advogado,
Consolador. Aquele que nos defende, luta por nós e, ainda, nos leva ao conhecimento da
verdade e a verdade que nos cura, nos salva e nos liberta, aliás, o próprio Senhor chama o
Espírito Santo de Espírito de Verdade.
Gostaria de terminar essa reflexão com um trecho da homilia do Papa Bento XVI em 2010,
mas que cabe ainda nos dias de hoje, pois a comunhão perfeita da Santíssima Trindade, Pai
Filho Espírito Santo é o que nós, como Igreja, sociedade e nação devemos ansiar:
“Tem início um processo de reunificação entre as partes da família humana, divididas e dispersas; as pessoas, muitas vezes, reduzidas a indivíduos em competição ou em conflito entre si, alcançadas pelo Espírito de Cristo, abrem-se à experiência da comunhão, que pode empenhá-las a ponto de fazer delas um novo organismo, um novo sujeito: a Igreja. Este é o efeito da obra de Deus: a unidade; por isso, a unidade é o sinal de reconhecimento, o ‘cartão de visita’ da Igreja no curso da sua história universal. Desde o início, do dia do Pentecostes, ela fala todas as línguas. A Igreja universal precede as Igrejas particulares, as quais devem se conformar sempre com ela, segundo um critério de unidade e universalidade. A Igreja nunca permanece prisioneira de confins políticos, raciais ou culturais; não se pode confundir com os Estados, nem sequer com as Federações de Estados, porque a sua unidade é de outro tipo e aspira a atravessar todas as fronteiras humanas”. (Bento XVI, Homilia na Solenidade de Pentecostes, 23 de maio 2010).
No próximo artigo falaremos sobre os dons do Espírito Santo.
Deus abençoe a todos e peçamos:
“VENI, SANCTE SPIRITUS! – VEM, ESPÍRITO SANTO!”