Reflexão sobre a Solenidade da Santíssima Trindade
Queridos irmãos e irmãs, no início desta reflexão precisamos entender que a revelação de quem é Deus acontece em Jesus Cristo. Como nos ensina o Evangelho de São João, ninguém jamais viu a Deus; o Filho único, Deus, que estava ao lado do Pai, o explicou, (Jo 1, 18), mas o Filho unigênito nos revela que Deus é Pai e que envia seu Filho para nos salvar.
Mas ainda não é tudo; nesta revelação aprendemos que entre Eles, há um amor eterno, incondicional, verdadeiro e esse amor é uma pessoa, é o Espírito Santo. Pela nossa inteligência humana, pela nossa racionalidade, podemos até compreender alguns aspectos desta revelação, como nos ensina a Constituição Dogmática Dei Filius (sobre a Fé Católica), do Concílio Vaticano I (Papa Pio IX- 1870): “O consenso constante da Igreja Católica tem também crido e crê que há duas ordens de conhecimento, distintas não só por seu princípio, mas também por seu objeto; por seu princípio, visto que numa conhecemos pela razão natural (inteligência), e na outra pela fé divina; e por seu objeto, porque, além daquilo que a razão natural pode atingir, propõem-se nos a crer nos mistérios escondidos em Deus, que não podemos conhecer sem a revelação divina. (Cân. 1, Cap. IV, A fé e a Razão). Ou seja, chegar a ”essa dedução, três pessoas em uma, com a mesma importância, com o mesmo grau de divindade, distintos, mas não separados, seria impossível simplesmente pelo intelecto. Ninguém teria tal capacidade se não pela fé como nos ensina o parágrafo da Constituição.
Santo Atanásio nos ensina “que não devemos perder de vista a tradição, a doutrina e a fé da Igreja Católica, tal como o Senhor ensinou, tal como os Apóstolos pregaram e os Santos Padres transmitiram”. Ainda afirma, “A nossa fé é essa: cremos na Trindade santa e perfeita, que é o Pai, o Filho e o Espírito Santo; nela não há mistura alguma de elemento estranho; não se compõe de Criador e criatura; mas toda ela é potência e força operativa; uma só é a sua natureza, uma só é sua eficiência e ação. O Pai cria todas as coisas por meio do Verbo, no Espírito Santo; e deste modo, se afirma a unidade da Santíssima Trindade”.
Diante disso, cremos firmemente e afirmamos simplesmente que há um só verdadeiro Deus eterno, imenso e imutável, incompreensível, todo poderoso e inefável, Pai, Filho e Espírito Santo: Três pessoas, mas uma Essência, uma Substância ou Natureza absolutamente simples. (Concílio Lateranense IV: DS 800).
A verdade revelada da Santíssima Trindade esteve desde as origens na raiz da fé viva da Igreja, principalmente por meio do Batismo. Ela encontra sua expressão na regra da fé batismal, formulada na pregação, na catequese e na oração da Igreja. Tais formulações encontram-se já nos escritos apostólicos, como na seguinte saudação, retomada na liturgia eucarística: “A graça do Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus e a comunhão do Espírito Santo estejam com todos vós” (2Cor13,13) , (CIC §249).
Algumas frases de Santos da Igreja referentes à Trindade:
São Clemente de Roma, Papa no ano 96, “Um Deus, um Cristo, um Espírito de graça” (Carta aos Coríntios 46,6). “Como Deus vive, assim vive o Senhor e o Espírito Santo” (Carta aos Coríntios 58,2);
Santo Inácio, bispo de Antioquia (107), mártir em Roma: “Vós sois as pedras do templo do Pai, elevado para o alto pelo guindaste de Jesus Cristo, que é a sua cruz, com o Espírito Santo como corda” (Carta aos Efésios 9,1);
São Justino, mártir no ano 151: “Os que são batizados por nós são levados para um lugar onde haja água e são regenerados da mesma forma como nós o fomos. É em nome do Pai de todos e Senhor Deus, e de Nosso Senhor Jesus Cristo, e do Espírito Santo que recebem a loção na água. Este rito foi-nos entregue pelos apóstolos” (I Apologia 61);
São Policarpo de Esmirna, que foi discípulo de São João Evangelista, mártir no ano 156, declarou: “Eu te louvo, Deus da Verdade, te bendigo, te glorifico por teu Filho Jesus Cristo, nosso eterno e Sumo Sacerdote no céu; por Ele, com Ele e o Espírito Santo, glória seja dada a Ti, agora e nos séculos futuros! Amém” (Martírio de Policarpo 14,1-3);
Santo Irineu de Lião, ano 189: “Com efeito, a Igreja espalhada pelo mundo inteiro até os confins da terra recebeu dos apóstolos e seus discípulos a fé em um só Deus, Pai onipotente, que fez o céu e a terra, o mar e tudo quanto nele existe; em um só Jesus Cristo, Filho de Deus, encarnado para nossa salvação; e no Espírito Santo que, pelos profetas, anunciou a economia de Deus *…+” (Contra as Heresias I,10,1).
Neste domingo, dedicado a Trindade Santa, rezemos com fé, fervor e esperança o que se confirmou no Concílio de Niceia no ano de 325:
“Cremos […] em um só Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, nascido do Pai como Unigênito, isto é, da substância do Pai, Deus de Deus, luz da luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, gerado, não feito, consubstancial com o Pai, por quem foi feito tudo que há no céu e na terra. […] Cremos no Espírito Santo, Senhor e fonte de vida, que procede do Pai, com o Pai e o Filho é adorado e glorificado, o qual falou pelos Profetas” (Credo de Niceia).
Deus Pai, Filho, Espírito Santo abençoe a todos.