Os dias entre a Ressurreição e a Ascensão do Senhor

Neste domingo a Igreja vivencia a Solenidade da Ascensão do Senhor.

 

         Ele volta para o Pai após cumprir a sua missão de resgate da humanidade através da sua encarnação. Ele é crucificado, morto, mas na ressurreição vence a morte e nos indica o caminho para podermos um dia também estar junto Dele na morada eterna. Para chegarmos lá, Ele mesmo nos indica:

Eu sou o caminho, a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim, (Jo 14,6).

         Podemos refletir como foram esses dias entre a Ressurreição e a Ascensão. Os momentos de Jesus com os discípulos, mas também aqueles momentos em que estavam reunidos como comunidade, mas ainda preocupados e sem ainda terem recebido o poder do Espírito Santo.

         Nas próximas linhas veremos uma reflexão feita pelo Papa São Leão Magno a cerca de que não foram dias de que nada aconteceu, mas dias em que recebemos riquezas que fazem da Igreja esse caminho verdade e vida que quer nos conduzir para o Senhor.

         Convido você a ler e meditar esse texto, pois o Senhor esta sim junto do Pai, mas também está com cada um de nós, pela sua onipresença, nos fortalecendo e nos motivando a continuar o caminhar rumo à pátria celestial.

         Caríssimos filhos, os dias entre a Ressurreição e a Ascensão do Senhor não foram passados na ociosidade. Pelo contrário, neles se confirmaram grandes sacramentos, grandes mistérios foram neles revelados.

         No decurso destes dias foi afastado o medo da morte cruel e proclamada a imortalidade não apenas da alma, mas também do corpo. Nestes dias, mediante o sopro do Senhor, todos os apóstolos receberam o Espírito Santo; nestes dias foi confiado ao apóstolo Pedro, mais que a todos os outros, o cuidado do rebanho do Senhor, depois de ter recebido as chaves do reino.

         Durante esses dias, o Senhor juntou-se, como um terceiro companheiro, a dois discípulos em viagem, e para dissipar as sombras de nossas dúvidas repreendeu a lentidão de espírito desses homens cheios de medo e pavor. Seus corações, por Ele iluminados, receberam a chama da fé; e à medida que o Senhor ia lhes explicando as Escrituras, foram se convertendo de indecisos que eram em ardorosos. E mais: ao partir o pão, quando estavam sentados com ele à mesa, abriram-se-lhes os olhos. Abriram-se os olhos dos dois discípulos, como os dos nossos primeiros pais. Mas quão mais felizes foram os olhos dos dois discípulos ante a glorificação da própria natureza, manifestada em Cristo, do que os olhos de nossos primeiros pais ante a vergonha da própria prevaricação, que significa, trair e desrespeitar uma ordem ou dever.

         Durante todo esse tempo, caríssimos filhos, passado entre a Ressurreição e a Ascensão do Senhor, a providência de Deus esforçou-se por ensinar e insinuar não apenas aos olhos, mas também aos corações dos seus que a Ressurreição do Senhor Jesus Cristo era tão real como o seu nascimento, paixão e morte.

         Os santos apóstolos e todos os discípulos ficaram muito perturbados com a tragédia da cruz e hesitavam em acreditar na ressurreição. De tal modo eles foram fortalecidos pela evidência da verdade que, quando o Senhor subiu aos céus, não experimentaram tristeza alguma, mas, pelo contrário, encheram-se de grande alegria.

         Na verdade, era grande e indizível o motivo de sua alegria: diante daquela santa multidão, contemplavam a natureza humana que subia a uma dignidade superior à de todas as criaturas celestes, ultrapassando até mesmo as hierarquias dos anjos e a altura sublime dos arcanjos. Deste modo, foi recebida junto do eterno Pai, que a associou ao trono de sua glória, depois de tê-la unido na pessoa do Filho à sua própria natureza divina.

Dos Sermões de São Leão Magno, Papa.

(Sermo 1 de Ascensione, 2-4: PL 54,395-396)        (Séc. V)

Júlio César Maltauro

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